Entre as marcas indeléveis do parto, poucas têm repercussão tão profunda – física, sexual e psicossocial – quanto dois temidos nomes: laceração perineal e fístula obstétrica. O nascimento de um filho, celebrado por muitos como o ápice da potência feminina, pode, paradoxalmente, inaugurar um ciclo silencioso de dor, estigma e privação da dignidade para milhares de mulheres todos os anos.
Se, por um lado, a obstetrícia moderna evoluiu no manejo das complicações agudas, por outro, os desafios na reparação tecidual e na plena reabilitação funcional persistem como fronteiras sensíveis da prática clínica. Não se trata apenas de restituir a anatomia: é preciso devolver à paciente o direito ao prazer, ao autocuidado e à reintegração social – dimensões frequentemente relegadas ao segundo plano nos protocolos convencionais.
Neste cenário, a incorporação de novas tecnologias – como a fotobiomodulação vaginal e perineal – surge como aliada não apenas da cicatrização, mas da restauração integral da saúde feminina.
Este artigo revisita os conceitos essenciais sobre lacerações e fístulas obstétricas, contextualiza suas consequências de curto e longo prazo e apresenta as evidências clínicas mais atuais sobre o papel da LEDterapia na reabilitação perineal. Porque cada mulher merece mais que a cura: merece encontrar alívio e acolhimento após o trauma.
O que é laceração perineal?
A laceração perineal refere-se à ruptura dos tecidos do períneo (pele e musculatura) durante o parto vaginal. Um estudo nacional brasileiro revelou que quase metade (49,5%) das puérperas relatou algum grau de laceração perineal após parto vaginal.1
Graus de laceração perineal

As lacerações podem gerar disfunções sexuais — como dor perineal persistente e dispareunia (dor na relação sexual) —, desconforto em exames ginecológicos, incontinência urinária, complicações coloproctológicas e ocorrência de prolapso dos órgãos pélvicos, exigindo um cuidado terapêutico multidisciplinar.
O que é fístula obstétrica?
A fístula obstétrica é uma lesão grave do parto, definida como uma comunicação anormal (uma “fenda”) entre o canal vaginal e qualquer segmento do trato urinário (bexiga, uretra ou ureter) ou do trato intestinal (reto). Na prática clínica, isso significa que há a saída de urina e/ou fezes pela vagina de forma contínua.2
Essa incontinência crônica causa forte impacto físico e psicossocial: além de odor e úlceras na pele perineal, a mulher desenvolve depressão e isolamento social.3
Aquelas que sofrem de fístulas são completamente sem voz – jovens, mulheres, pobres, rurais e marginalizadas. São as leprosas do século XXI.4
Nicholas D. Kristof, jornalista do The New York Times
No Brasil, a incidência de fístula obstétrica é baixa em comparação a países de baixa renda, graças aos atendimentos obstétricos nas maternidades; porém, ainda há relatos de fístulas pós-parto em partos não assistidos ou complicados.
Conforme o Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA), globalmente cerca de 50.000 a 100.000 novos casos surgem por ano em regiões carentes na África Subsaariana, Ásia, países árabes e América Latina.
Na prática obstétrica, qualquer ruptura em múltiplos planos perineais (grau III/IV) mal tratada pode evoluir para uma comunicação fistulosa, sobretudo entre o reto e a vagina.
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Consequências clínicas: laceração perineal e fístula obstétrica
Laceração
Mesmo as lacerações perineais tratadas imediatamente podem deixar sequelas. As de grau I-II podem cicatrizar bem, mas, se não adequadamente reparadas, há risco de dor crônica perineal e dispareunia.
As de grau III-IV, que envolvem o esfíncter anal, estão associadas a disfunções sexuais, à incontinência urinária e fecal e até ao prolapso de órgãos pélvicos.
Além disso, mulheres com lacerações graves podem desenvolver instabilidade emocional e medo de um novo parto normal, sendo recomendada abordagem psicológica complementar.
Fístula
A consequência mais imediata é a incontinência urinária e/ou fecal permanente. Isso leva à irritação cutânea, úlceras na região perineal, infecções recorrentes e odor fétido.
A longo prazo, quase todas as mulheres com fístula obstétrica desenvolvem complicações crônicas: úlceras de pele, infecções urinárias, uretrites e cistites constantes.
No aspecto emocional, o estigma social é intenso: há relatos de abandono familiar e exclusão comunitária devido à incontinência. Psicologicamente, depressão, ansiedade e redução grave da autoestima são comuns.
Tratamento e reabilitação: laceração perineal e fístula obstétrica
Lacerações
Devem ser reparadas imediatamente no pós-parto. Lesões de grau III e IV requerem sutura em múltiplos planos, muitas vezes em conjunto com cirurgião colorretal.
O pós-operatório inclui controle da dor (analgesia oral ou bloqueios), higiene perineal rigorosa (banhos de assento, limpeza suave, pomadas tópicas se necessário) e dieta rica em fibras para evitar constipação. Antibióticos profiláticos podem ser usados nas lacerações de alto grau.
Fístulas
O tratamento definitivo é cirúrgico, feito por equipes especializadas em ginecologia e proctologia. Normalmente a fístula é abordada após controle de inflamação/infecção (espera-se 3–6 meses para maturação da lesão). A cirurgia reconstitui a parede vaginal e reparte o tecido entre vagina e reto/bexiga, frequentemente usando enxerto ou retalho de mucosa bem vascularizada.5
Infelizmente, mesmo com técnicas avançadas, há recidiva em alguns casos. Após a cirurgia, a paciente necessita de repouso, cateterismo vesical curto prazo (no caso de fístula urinária) e acompanhamento. Após a cura, vale reforçar que mulheres operadas podem engravidar novamente com pré-natal rigoroso.
Laceração perineal e fístula obstétrica: o papel da fisioterapia pélvica
Esse é um componente chave da reabilitação. Exercícios de fortalecimento do assoalho pélvico (Kegel, contrações rápidas e sustentadas) devem ser iniciados já no pós-parto imediato e continuados por meses. Há evidências robustas de que o treinamento do assoalho pélvico pós-parto reduz significativamente a incontinência urinária e o risco de prolapso.
Uma meta-análise publicada em 20256 mostrou que, no primeiro ano pós-parto, a fisioterapia pélvica reduz em cerca de 37% as chances de incontinência urinária e em 56% o prolapso, comparado a não fazer exercícios. Também ajuda a tratar dores crônicas do assoalho pélvico e disfunções sexuais associadas às lesões.
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Fotobiomodulação vaginal em casos de laceração perineal e fístula obstétrica
A fotobiomodulação – também chamada de LEDterapia ou terapia de luz de baixa intensidade – tem sido explorada como terapia adjuvante para melhorar a cicatrização perineal e regeneração vaginal.
O princípio é que a luz vermelha e a infravermelha penetram o tecido, estimulam a microcirculação e aumentam a produção de colágeno pelas células, acelerando a reparação tecidual.
Em estudos de condições geniturinárias, a fotobiomodulação demonstrou perfil de segurança favorável e efeitos positivos na saúde vaginal. Um ensaio clínico com puérperas indicou que protocolos de fotobiomodulação foram mais eficazes que crioterapia no pós-parto na redução da dor em parturientes que sofreram lacerações graus I e II e/ou episiotomia.7 Esse efeito, após 24h, foi ainda mais significativo.
Opção eficaz para a Síndrome Geniturinária da Menopausa
Semelhantemente, uma revisão na revista Photobiomodulation, Photomedicine and Laser Surgery concluiu que a fotobiomodulação é segura e eficaz como adjuvante no tratamento da Síndrome Geniturinária da Menopausa, promovendo rejuvenescimento da mucosa vaginal.8 Esses efeitos biológicos sugerem potencial benefício na redução de inflamação e cicatrização de fissuras perineais.

Na prática clínica, a placa de LED é envolvida em filme plástico e posicionada junto à vagina por 10 minutos por sessão (geralmente diária ou semanal). Estudos preliminares (in vivo e observacionais) relataram melhora na saúde vaginal e índice de função sexual após sessões com dispositivos de LED.
Considerando a falta de efeitos adversos importantes, muitos grupos de fisioterapia pélvica já incluem sessões de LEDterapia vaginal como complemento à reabilitação pós-parto. A fotobiomodulação vaginal – inclusive com a placa de LED Vulvallux – é vista como recurso adjuvante que pode potencialmente aliviar dor e acelerar a recuperação dos tecidos; sua indicação deve ser individualizada, baseada em evidências emergentes e na experiência clínica.
Referências bibliográficas
- MAMEDE, Luciana; MARANO, Daniele; DIAS, Marcos Augusto Bastos; SOUZA JUNIOR, Paulo Roberto Borges de. Prevalência e fatores associados à percepção da laceração perineal: estudo transversal com dados do Inquérito Nascer no Brasil, 2011 e 2012. Epidemiologia e Serviços de Saúde, v. 33, 2024. Disponível em: <http://scielo.iec.gov.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1679-49742024000100211&lng=pt&nrm=.pf&tlng=pt>. Acesso em: 23 maio 2025.
- FUNDO DE POPULAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS (UNFPA). Fístula obstétrica. Disponível em: <https://brazil.unfpa.org/pt-br/topics/f%C3%ADstula-obst%C3%A9trica>. Acesso em: 23 maio 2025.
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- FISTULA FOUNDATION. Barriers to Treatment. Disponível em: <https://fistulafoundation.org/what-is-fistula/why-women-still-suffer/>. Acesso em: 23 maio 2025.
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- CONSTANT, Élen Cristine Boniatti; STEIN, Gabriela Plentz; OLIVEIRA, Korine Camargo de; PAIVA, Luciana Laureano; COSTA, Sergio Martins; RAMOS, José Geraldo Lopes. Comparison of photobiomodulation with cryotherapy in the immediate postpartum period of parturients with grade I, grade II lacerations and/or episiotomy in reducing perineal and vulvar edema: A randomized clinical trial. European Journal of Obstetrics & Gynecology and Reproductive Biology, v. 301, p. 240-245, out. 2024. DOI: 10.1016/j.ejogrb.2024.08.025. Disponível em: <https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/39167877/>. Acesso em: 23 maio 2025.
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