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Como realizar o acolhimento de pessoas LGBT+ na saúde?

Apesar dos avanços, a busca por igualdade de direitos da comunidade LGBT+ ainda é marcada por lutas, inclusive na esfera da saúde. Ao procurarem atendimento, populações LGBT+ encontram uma série de barreiras, o que dificulta seus processos de cuidado e pode afastá-las do serviço de saúde.

Uma das principais causas da vulnerabilidade da população LGBT+ é o desconhecimento dos profissionais de saúde a respeito de especificidades de saúde dessa população.

No Brasil, boa parte dos cursos de saúde não possui currículo obrigatório sobre cuidados LGBT+, formando uma lacuna nas competências necessárias para atender às necessidades particulares desta população.

De acordo com a Política Nacional de Saúde Integral LGBT+: “Por acolhimento, entende-se o conjunto de medidas, posturas e atitudes dos profissionais de saúde que garantam credibilidade e consideração à pessoa que está sendo atendida. Pressupõe receber e escutar a pessoa, com respeito e solidariedade, buscando-se formas de compreender suas demandas e expectativas.”

Neste artigo, você conhecerá mais detalhes sobre o acolhimento de pessoas LGBT+ e como você pode adotar uma prática inclusiva e humanizada dentro do seu atendimento.

Quais os obstáculos de acesso da população LGBT+ aos serviços de saúde?

Quando se fala em acolhimento de pessoas LGBT+ infelizmente ainda é muito comum que venha à mente apenas questões relacionadas a práticas sexuais, principalmente no tocante a ISTs e sua prevenção.

Esta visão fracionada impede muitas vezes que o paciente tenha o cuidado de sua saúde de forma integral, considerando as suas particularidades.

Dentro dos obstáculos encontrados pela comunidade, destacam-se:

  • Despreparo no acolhimento: desde um formulário em que não há opção de nome social a atendentes despreparados para acolher o paciente de forma humanizada, há uma série de situações que constrangem o paciente LGBT+ e o desmotiva a procurar o sistema de saúde, que o leva a optar por se tratar em casa sem acompanhamento profissional.
  • Falta de conhecimento técnico: pessoas LGBT+ possuem necessidades específicas, principalmente aquelas que realizam modificações corporais e processos de hormonização. A falta de conhecimento por parte dos profissionais em como proporcionar os cuidados necessários faz com que pacientes busquem alternativas sem acompanhamento médico, colocando em risco a própria saúde.
  • Preconceito e discriminação: infelizmente, muitas vezes o preconceito vem dos próprios agentes de saúde, seja por desconhecimento, ou fatores culturais enraizados.
  • Estigmatização: populações LGBT+ compartilham entre si a experiência de processos de estigmatização social causados pela reação comunitária a não conformação desses grupos às normas sociais cisheteronormativas.
  • Estresse de minoria: A vivência cotidiana de constrangimentos sociais e violências relacionados à orientação sexual e à identidade de gênero leva a quadros que comprometem a saúde mental do paciente.
  • Ausência de cobertura: as demandas relacionadas à diversidade, como procedimentos de redesignação sexual para pessoas trans, não são assegurados por operadoras, tornando o procedimento caro e inviável para grande parte dessa população.
  • Capacidade limitada de atendimento do SUS: as longas filas de espera por atendimento especializado no SUS levam muitos pacientes LGBT+ a desistirem do atendimento.

6 dicas de como atender a população LGBT+

Por conta de experiências de discriminação, ou pelo medo de que elas ocorram, algumas pessoas LGBT+ evitam procurar os serviços de saúde, ou mesmo abandonam acompanhamento médico em curso, colocando a sua saúde em risco.

Deste modo, é necessário estudar para trazer um atendimento humanizado capaz de atender as necessidades particulares dessa população. Confira a seguir dicas de como realizar o acolhimento de pessoas LGBT+ na sua prática profissional de saúde.

Familiarização com o tema

Para iniciar o atendimento à população LGBT+ é fundamental demonstrar conhecimento dos conceitos básicos de gênero e sexualidade humana. É necessário fazer o uso adequado da linguagem que minimize estereótipos, compreender questões relacionadas ao cotidiano dos pacientes, entender os impactos psicológicos, realizar anamnese clínica que leve em conta particularidades dessa comunidade, entre outras questões relacionadas ao tema.

🏳️‍🌈Continue seu aprendizado, leia também: O que significa a sigla LGBTQIAPN+?

Formulários de atendimento inclusivos

Os formulários de saúde em sua maioria ainda são discriminatórios, pois são produzidos tendo como foco apenas mulheres que presumivelmente mantém relações com homens e homens que mantém relações com mulheres. Além disso, não possuem campo com determinação de gênero e escolha de pronome de tratamento. É necessário reavaliar o seu atendimento desde o início, adequando o seu formulário para a prática inclusiva.

Saiba como agir em casos de violência

Casos de violência física e psicológica, motivadas por preconceito e violações de direitos, são acontecimentos comuns na vida de muitas pessoas da comunidade LGBT+, principalmente pessoas trans. A discriminação causa sofrimento e adoecimento, portanto é um fator muito importante a ser considerado durante a tratativa.

As diferentes formas de violência não são necessariamente físicas, e podem ocorrer em situações de desigualdade e discriminação que ocorrem dentro da família, nos sistemas de saúde, nas escolas, nos ambientes de trabalho e nas comunidades em que se vive.

O profissional de saúde tem um papel ímpar durante a identificação da violência, pois ele é capaz de gerar um elo de acolhimento e confiança que dará continuidade a assistência.

Ao identificar ou suspeitar que o paciente está sendo vítima de violência devido a sua orientação sexual e/ou identidade de gênero, essa pessoa precisa ser ouvida, acolhida e devidamente orientada de como proceder para realizar uma denúncia formal.

É importante que o profissional que realizou o atendimento registre a notificação no Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN).

Adequação do ambiente físico

Algumas ações específicas são necessárias para travestis, mulheres transexuais e homens transexuais. Promova o respeito nos ambientes físicos, evitando constrangimentos no uso de banheiros e nas alas de internação (se for o seu caso).

Conheça as particularidades do paciente

Quando se fala particularidades em saúde, destaca-se a diversidade existente entre os seres humanos e compreendemos que há características de saúde diferentes para grupos socialmente diversos. Para realizar o acolhimento de pessoas LGBT+ é importante conhecer algumas de suas características prevalentes.

  • Comunidade LGBT+: deve-se considerar que muitas pessoas desta comunidade têm processos de intenso sofrimento, depressão, que podem gerar processos de automutilação e até tentativas de suicídio. Tais questões psicológicas podem ocasionar o uso de psicoativos, a fim de tentar aliviar o sofrimento.
  • Mulheres trans e travestis: entre as travestis e mulheres transexuais são comuns o uso abusivo de hormônios femininos e a aplicação de silicone industrial em diversas partes do corpo realizadas pelas bombadeiras.
  • Homens trans: assim como as mulheres trans, muitos homens trans também buscam a transformação corporal sem acompanhamento profissional, fazendo o uso de hormônios masculinos e podendo sofrer efeitos colaterais.

Intersetorialidade

No atendimento LGBT+ é importante que diferentes instituições conversem entre si. As ações de cuidado a essa população não podem se restringir aos muros de uma única instituição de saúde, já que requerem um cuidado integral.

A Política Nacional de Saúde Integral LGBT+, ao conversar com outras políticas, permite ao profissional de saúde articular a rede de prevenção e proteção a fim de assegurar os direitos da população LGBT+.

Desse modo, tenha sempre o contato de outros órgãos que trabalham em prol da defesa dos direitos de LGBT+ próximos a você, como delegacia especializada, centros de assistência social, serviços de saúde especiais, entre outros.

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Referência

CIASCA, S. V.; HERCOWITZ, A.; JUNIOR, A. L. Saúde LGBTQIA+: Práticas de cuidado transdisciplinar. 1ª edição. São Paulo: Editora Manole, 2022.

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